A análise de solo é o ponto de partida para nutrir adequadamente as plantas e obter elevadas produtividades com o menor custo. Apesar de ser uma tecnologia simples e de baixo custo não é utilizada por uma parcela expressiva dos produtores rurais. 

Mas afinal, por que analisar o solo?? Somente com a análise de solo é possível definir doses adequadas de corretivos e fertilizantes nas lavouras. Com a análise de solo é possível avaliar de forma detalhada os nutrientes disponíveis as plantas, desbalanços nutricionais e elementos tóxicos. É uma das etapas mais importantes no processo de produção agrícola, pois permite avaliar a necessidade de corrigir a acidez, fornecer nutrientes de modo equilibrado e neutralizar elementos tóxicos do solo. Essa etapa é indispensável para gerenciar melhor as aplicações de corretivos e fertilizantes de forma racional e econômica nos processos produtivos da agricultura e pecuária. Através da interpretação da análise de solo é possível avaliar o grau de fertilidade do solo e garantir a disponibilidade de nutrientes para ótimas produtividades, evitar gastos desnecessários com insumos e aumentar a lucratividade. 

Um programa de adubação envolve quatro etapas importantes que será detalhada a seguir, que são: a amostragem do solo, a análise em laboratório, interpretação dos resultados e recomendação de corretivos e fertilizantes (Figura 1). Dentre essas etapas, a amostragem de solo é a mais relevante porque pode comprometer as etapas subsequentes, isto é, recomendar doses de corretivos e fertilizantes abaixo ou acima da necessidade da lavoura.

Figura 1. Etapas de um programa de adubação para o manejo da fertilidade do solo e nutrição da lavoura. 

Amostragem de solo

O sucesso da adubação nos solos e consequentemente da nutrição das plantas depende principalmente em adotar os procedimentos corretos na amostragem de solo. Para isso, uma amostragem representativa da área é fundamental. Embora seja uma etapa simples, a amostragem de solo é a parte mais crítica e importante de todo do processo de análise do solo, visto que uma pequena quantidade de solo representará vários hectares. Desta forma, a coleta das amostras deve ser realizada com critério e extrema qualidade do início ao fim pois será base para a programação das adubações.

Para a coleta das amostras, inicialmente, deve-se dividir a área em glebas homogêneas e identifica-las com um nome ou número (Figura 2), que será utilizado no preenchimento da etiqueta do saquinho a ser enviado ao laboratório. É fundamental que cada propriedade tenha um croqui ou mapa dos talhões ou glebas homogêneas para facilitar os trabalhos de coleta de solo, aplicações de insumos e acompanhamento dos resultados da análise de solo ao longo do tempo. Na divisão das glebas, deve-se considerar as características do solo, tais como cor, textura, relevo (encosta e baixada), vegetação natural, drenagem, histórico da área referente ao manejo, tais como adubação, rotação de culturas, cultura anterior, manejo da palhada e produtividade. Em culturas perenes, deve-se ainda considerar, a idade, a variedade e as podas. Outras características podem ser consideradas quando necessário para garantir a homogeneidade da área, considerando sempre a capacidade do solo em fornecer nutrientes e as exigências das plantas. Embora existam áreas homogêneas superiores a 10 hectares (ha), não é recomendável ultrapassar muito esse valor. Caso a área considerada homogênea seja maior que 20 ha, o ideal é dividir. Observa-se na figura 2, que as áreas foram divididas no terreno de acordo com as árvores novas e antigas, pastagem plana, pastagem em declive e culturas adubadas e não adubadas. Os limites de cada gleba foram com base na área homogênea e não pela área em ha, mas sempre respeitando o limite de 10 ha.

Figura 2. Glebas homogêneas e caminhamento em zigue-zague para a amostragem de solo.

Antes de coletar as amostras a superfície do solo deve ser limpa, retirando os restos de plantas e resíduos orgânicos. Após a coleta de cada amostra simples o equipamento de coleta deve ser limpo com auxílio de uma espátula ou faca. Quando for coletar amostras em diferentes profundidades deve-se coletar no mesmo local, fazendo um caminhamento em zigue-zague até percorrer toda a área. A umidade do solo é um ponto a ser observado para coletar as amostras. Tanto muito úmido quanto muito seco podem afetar a qualidade da amostragem na homogeneização, contaminação e rendimento de coleta. O ideal é que o solo esteja parcialmente úmido para as coletas.

As amostras de solo não devem ser coletas em locais específicos que não representem a gleba, tais como próximos de cupins, formigueiros, árvores, currais, brejos, manchas especificas encontradas na área, locais próximos de depósito de defensivos, fertilizantes e corretivos, estradas ou caminhos de animais e erosões localizadas. 

Após a divisão das áreas, coleta-se 20 amostras simples em cada gleba homogênea para uma mesma profundidade (Figura 2). Em seguida deve-se homogeneizar as amostras em um recipiente para formar a amostra composta. Em seguida retirar cerca de 300 g de solo e transferir para o saquinho de plástico livre de contaminação com as identificações necessárias para ser enviada ao laboratório. Na figura 2, é apresentado um esquema de divisão de áreas em uma propriedade e o caminhamento em zigue-zague distribuídos por toda gleba para a coleta das amostras. Este procedimento é necessário em razão da variabilidade espacial dos atributos químicos do solo que ocorre pelos processos pedogenéticos de forma natural ou pelas ações antrópicas em razão do manejo da área ao longo do tempo.

“Para diminuir a variabilidade e/ou evitar o seu aumento é importante estar atento as práticas de manejo e adubações. Sempre realizar essas operações de modo homogêneo na área”.

Considerando a camada arável de solo em 1 ha estima-se um peso médio de 2.000.000 kg. Considerando que cerca de 0,5 kg de solo da amostra é enviada ao laboratório e dessa quantidade cerca de 0,01 kg (10 gramas) são analisadas, essa quantidade representa uma parte por bilhão do volume de solo em 10 ha na camada de 0-20 cm. Por isso, a amostragem de solo é a etapa mais relevante do processo de análise de solo, devendo seguir rigorosamente os procedimentos para obter uma amostra representativa da área e que expresse a sua fertilidade média. Mesmo seguindo todas as recomendações nos procedimentos de amostragem, sempre haverá a variabilidade no solo em termos químicos, físicos e biológicos, pois diferem-se em curtas distancias. O objetivo principal de seguir os procedimentos corretos consiste em diminuir essa variabilidade e aumentar a exatidão da fertilidade média. 

Local e profundidade de amostragem

Nas culturas perenes implantadas, tais como fruticultura, cafeicultura, silvicultura, dentre outras, deve-se ter a atenção especial ao local de coleta. Nessas culturas, deve-se realizar amostragem de solo na área de adubação (projeção da copa) e nas entrelinhas (meio da rua) (Figura 3). Nas culturas perenes com espaçamentos menores entre as linhas de plantio, ou seja, em lavouras adensadas, onde os corretivos e adubações são realizadas em área total, pode-se fazer uma amostragem composta, coletando-se a metade das amostras simples na projeção da copa e a outra metade nas entrelinhas. 

Figura 3. Local e profundidade de coleta das amostras em culturas perenes. Coleta de amostras de solo, em três profundidades.  

A profundidade de coleta é variável de acordo com a cultura, manejo, antes ou após a implantação da lavoura. No sistema convencional que envolve o preparo de solo com aração e gradagem deve-se coletar na profundidade 0-20 cm, pois essas práticas promovem a homogeneização o solo. Apesar da maior parte do sistema radicular das plantas estarem concentradas na profundidade de 0-20 cm, considerada a camada arável, deve-se coletar amostras também nas profundidades de 21-40 e 41-60 cm. Essa recomendação visa avaliar impedimento químico para o desenvolvimento do sistema radicular e vale tanto para implantação da lavoura quanto para culturas perenes implantadas. 

Construir a fertilidade no solo em seu perfil tem sido uma prática em expansão para elevar as produtividades e manter a lavoura em boas condições quando há déficit hídrico. A coleta nas camadas mais profundas do solo é indispensável quando pretende-se implementar o sistema de plantio direto e em culturas perenes, que permanecerão por vários anos sem revolver o solo. A amostragem nas camadas mais profundas do solo visa diagnosticar o perfil do solo para a correção quando necessária e ter garantia que o subsolo está em boas condições para o desenvolvimento das raízes. Assim, o sistema radicular das culturas pode crescer em maiores profundidades, absorver maiores quantidades de água e nutrientes, fazendo que as produtividades sejam aumentadas.

Época e frequência de amostragem

Realizar as coletas das amostras na época e frequência adequadas são de grande importância para obter bons resultados com aplicações de insumos na lavoura, tendo em vista o seu baixo custo comparado a todo o investimento a ser feito com corretivos e fertilizantes. As coletas das amostras podem ser realizadas em qualquer época do ano, desde que seja respeitado um período mínimo de 2 meses após a última adubação e com um período de antecedência que permite receber os resultados do laboratório, enviar ao responsável técnico para as recomendações, comprar os corretivos e fertilizantes em tempo hábil e aplicar na época certa. Uma programação compatível com a compra de corretivos e fertilizantes na época da entressafra, pode viabilizar a compra desses insumos por um preço menor.

Deve-se considerar o tempo para enviar ao laboratório e processo de análise e possíveis atrasos pelo laboratório. O período de 6 meses de antecedência da implantação da lavoura e 3 meses das adubações para culturas implantadas são suficientes para uma boa programação nas aplicações dos insumos. Se houver a necessidade de aplicar corretivos de acidez através da calagem é necessário um período de 3 meses para a reação do corretivo no solo.  A coleta no prazo correto permite o planejamento adequado das compras de insumos, podendo conseguir preços mais baixos e entrega rápida. 

A frequência das coletas das amostras é variável em função do manejo, rotação de culturas, intensidade de adubações, número de culturas anuais sucessivas. Para culturas perenes as coletas das amostras devem ser realizadas anualmente na área de adubação correspondente a projeção da copa das plantas e a cada 2 anos nas áreas não adubadas, isto é, nas entrelinhas ou meio da rua. Em áreas de cultivo intenso com várias safras no ano e/ou com irrigação devem ser analisadas com maior frequência em função da maior exportação de nutrientes.

Equipamentos e materiais para amostragem

Os itens para amostragem de solo englobam o equipamento de coleta, balde, faca ou espátula, saquinho plástico com etiqueta para a identificação e barbante. Para a coleta em duas ou mais profundidades na mesma área deve-se ter disponíveis mais baldes, sendo um para cada profundidade, que devem ser limpos e de preferência em plástico com capacidade de 10 a 20 L. A faca ou espátula é utilizado para auxiliar na limpeza dos equipamentos entre cada coleta de amostra. Vários equipamentos podem ser utilizados nas coletas de solo, sendo os mais utilizados no Brasil o trado holandês (Figura 4), trado sonda, trado rosca, pá-de-corte, enxadão, além de equipamentos elétricos como a furadeira elétrica acoplada com haste de rosca. É importante certificar que o equipamento a ser utilizado nas coletas esteja limpo e afiado para obter qualidade e demandar menos tempo de serviço. Os equipamentos que não são de aço inox não devem apresentar ferrugem para evitar contaminação das amostras.

Dependendo do tipo de solo e umidade no momento da coleta alguns equipamentos podem ser mais vantajosos ou recomendados. O tempo e o esforço físico durante as coletas dependerão da umidade, textura e grau de compactação do solo. Os trados são mais fáceis de manusear e coletam volumes menores de solo quando comparados com a pá-de-corte e enxadão. Na comparação entre os trados, o holandês coleta o dobro do volume que os trados de rosca e sonda.

Figura 4. Coleta de amostras de solo com trado sonda. 

O tipo de equipamento influencia no tempo de coleta, volume do solo amostrado e na qualidade da amostragem. Essa qualidade refere-se as alterações dos atributos de fertilidade do solo que podem ser superestimadas ou subestimadas. Com essas alterações, as recomendações de corretivos e adubações podem ficar baixo ou cima do ideal para a nutrição adequada e refletir na produtividade e rentabilidade. Contudo, independente do equipamento de coleta, deve-se coletar as amostras simples na mesma profundidade e o mesmo volume de solo.

Secagem do solo e envio ao laboratório

As amostras devem ser secadas à sombra para o envio ao laboratório (Figura 5). O loca da secagem deve ser livre de trânsito de pessoas e animais para evitar contaminação. Caso as amostras forem enviadas logo após a coleta, não precisa da secagem. Cada amostra deve der identificada com uma etiqueta contendo o nome da propriedade, número ou nome da gleba, cultura, proprietário, localização e outras informações quando houver necessidade. O preenchimento da etiqueta deve ser preferencialmente com caneta que não borre com a umidade. Pode ser enviado pelo correio ou entregue no laboratório. Existem vários laboratórios credenciados no país, isto é, que possuem selo de qualidade, de modo que deve solicitar as análises em um laboratório de confiança, levando em consideração o preço e tempo para a entrega dos resultados.

Figura 5. Amostras em saquinhos para envio ao laboratório.

Considerações finais

É importante destacar que a adubação começa com a análise de solo, continua com a correção de acidez, quando necessário e termina com a aplicação dos fertilizantes. Por isso, a amostragem deve ser realizada com muito cuidado, pois uma pequena porção de terra representara uma grande área e será a base para definir as quantidades de corretivos e fertilizantes. Erros na amostragem não poderão ser corrigidos nas etapas posteriores o que resulta em recomendações de insumos em excesso ou insuficientes para a lavoura podendo ocasionar prejuízos e danos ao meio ambiente. As coletas devem ser realizadas por pessoas treinadas e que conheçam os procedimentos corretos pois o laboratório não corrige falhas ocorridas durante a amostragem no campo.

É sempre bom enviar as amostras para o mesmo laboratório, coletar as amostras com o mesmo profissional e com o mesmo equipamento para o acompanhamento ao longo do tempo, de modo a impedir que esses fatores interfiram os resultados.

Referências 

ALVAREZ V., V.H.; NOVAIS, R.F.; BARROS, N.F.; CANTARUTTI, R.B.; LOPES, A.S. Interpretação dos resultados das análises de solos. In: RIBEIRO, A.C.; GUIMARÃES, P.T.G.; ALVAREZ V., V.H. (Ed.). Recomendações para o uso de corretivos e fertilizantes em Minas Gerais. 5a aproximação. Viçosa: Comissão de Fertilidade do Solo do Estado de Minas Gerais, 1999. p.25-32. 

Cantarutti, R.B.; Barros, N.F.; Martinez, H.E.P.; Novais, R.F. 2007. Avaliação da fertilidade do solo e recomendação de fertilizantes. pp. 769-850. In: Novais, R.F.; Alvarez V., V.H.; Barros, N.F.; Fontes, R.L.F.; Cantarutti, R.B.; Neves, J.C.L. (eds). Fertilidade do solo. Sociedade Brasileira de Ciência do Solo. Viçosa, Brasil.

 

Compartilhe!

Deixe um comentário!

A análise de solo é o ponto de partida para nutrir adequadamente as plantas e obter elevadas produtividades com o menor custo. Apesar de ser uma tecnologia simples e de baixo custo não é utilizada por uma parcela expressiva dos produtores rurais. 

Mas afinal, por que analisar o solo?? Somente com a análise de solo é possível definir doses adequadas de corretivos e fertilizantes nas lavouras. Com a análise de solo é possível avaliar de forma detalhada os nutrientes disponíveis as plantas, desbalanços nutricionais e elementos tóxicos. É uma das etapas mais importantes no processo de produção agrícola, pois permite avaliar a necessidade de corrigir a acidez, fornecer nutrientes de modo equilibrado e neutralizar elementos tóxicos do solo. Essa etapa é indispensável para gerenciar melhor as aplicações de corretivos e fertilizantes de forma racional e econômica nos processos produtivos da agricultura e pecuária. Através da interpretação da análise de solo é possível avaliar o grau de fertilidade do solo e garantir a disponibilidade de nutrientes para ótimas produtividades, evitar gastos desnecessários com insumos e aumentar a lucratividade. 

Um programa de adubação envolve quatro etapas importantes que será detalhada a seguir, que são: a amostragem do solo, a análise em laboratório, interpretação dos resultados e recomendação de corretivos e fertilizantes (Figura 1). Dentre essas etapas, a amostragem de solo é a mais relevante porque pode comprometer as etapas subsequentes, isto é, recomendar doses de corretivos e fertilizantes abaixo ou acima da necessidade da lavoura.

Figura 1. Etapas de um programa de adubação para o manejo da fertilidade do solo e nutrição da lavoura. 

Amostragem de solo

O sucesso da adubação nos solos e consequentemente da nutrição das plantas depende principalmente em adotar os procedimentos corretos na amostragem de solo. Para isso, uma amostragem representativa da área é fundamental. Embora seja uma etapa simples, a amostragem de solo é a parte mais crítica e importante de todo do processo de análise do solo, visto que uma pequena quantidade de solo representará vários hectares. Desta forma, a coleta das amostras deve ser realizada com critério e extrema qualidade do início ao fim pois será base para a programação das adubações.

Para a coleta das amostras, inicialmente, deve-se dividir a área em glebas homogêneas e identifica-las com um nome ou número (Figura 2), que será utilizado no preenchimento da etiqueta do saquinho a ser enviado ao laboratório. É fundamental que cada propriedade tenha um croqui ou mapa dos talhões ou glebas homogêneas para facilitar os trabalhos de coleta de solo, aplicações de insumos e acompanhamento dos resultados da análise de solo ao longo do tempo. Na divisão das glebas, deve-se considerar as características do solo, tais como cor, textura, relevo (encosta e baixada), vegetação natural, drenagem, histórico da área referente ao manejo, tais como adubação, rotação de culturas, cultura anterior, manejo da palhada e produtividade. Em culturas perenes, deve-se ainda considerar, a idade, a variedade e as podas. Outras características podem ser consideradas quando necessário para garantir a homogeneidade da área, considerando sempre a capacidade do solo em fornecer nutrientes e as exigências das plantas. Embora existam áreas homogêneas superiores a 10 hectares (ha), não é recomendável ultrapassar muito esse valor. Caso a área considerada homogênea seja maior que 20 ha, o ideal é dividir. Observa-se na figura 2, que as áreas foram divididas no terreno de acordo com as árvores novas e antigas, pastagem plana, pastagem em declive e culturas adubadas e não adubadas. Os limites de cada gleba foram com base na área homogênea e não pela área em ha, mas sempre respeitando o limite de 10 ha.

Figura 2. Glebas homogêneas e caminhamento em zigue-zague para a amostragem de solo.

Antes de coletar as amostras a superfície do solo deve ser limpa, retirando os restos de plantas e resíduos orgânicos. Após a coleta de cada amostra simples o equipamento de coleta deve ser limpo com auxílio de uma espátula ou faca. Quando for coletar amostras em diferentes profundidades deve-se coletar no mesmo local, fazendo um caminhamento em zigue-zague até percorrer toda a área. A umidade do solo é um ponto a ser observado para coletar as amostras. Tanto muito úmido quanto muito seco podem afetar a qualidade da amostragem na homogeneização, contaminação e rendimento de coleta. O ideal é que o solo esteja parcialmente úmido para as coletas.

As amostras de solo não devem ser coletas em locais específicos que não representem a gleba, tais como próximos de cupins, formigueiros, árvores, currais, brejos, manchas especificas encontradas na área, locais próximos de depósito de defensivos, fertilizantes e corretivos, estradas ou caminhos de animais e erosões localizadas. 

Após a divisão das áreas, coleta-se 20 amostras simples em cada gleba homogênea para uma mesma profundidade (Figura 2). Em seguida deve-se homogeneizar as amostras em um recipiente para formar a amostra composta. Em seguida retirar cerca de 300 g de solo e transferir para o saquinho de plástico livre de contaminação com as identificações necessárias para ser enviada ao laboratório. Na figura 2, é apresentado um esquema de divisão de áreas em uma propriedade e o caminhamento em zigue-zague distribuídos por toda gleba para a coleta das amostras. Este procedimento é necessário em razão da variabilidade espacial dos atributos químicos do solo que ocorre pelos processos pedogenéticos de forma natural ou pelas ações antrópicas em razão do manejo da área ao longo do tempo.

“Para diminuir a variabilidade e/ou evitar o seu aumento é importante estar atento as práticas de manejo e adubações. Sempre realizar essas operações de modo homogêneo na área”.

Considerando a camada arável de solo em 1 ha estima-se um peso médio de 2.000.000 kg. Considerando que cerca de 0,5 kg de solo da amostra é enviada ao laboratório e dessa quantidade cerca de 0,01 kg (10 gramas) são analisadas, essa quantidade representa uma parte por bilhão do volume de solo em 10 ha na camada de 0-20 cm. Por isso, a amostragem de solo é a etapa mais relevante do processo de análise de solo, devendo seguir rigorosamente os procedimentos para obter uma amostra representativa da área e que expresse a sua fertilidade média. Mesmo seguindo todas as recomendações nos procedimentos de amostragem, sempre haverá a variabilidade no solo em termos químicos, físicos e biológicos, pois diferem-se em curtas distancias. O objetivo principal de seguir os procedimentos corretos consiste em diminuir essa variabilidade e aumentar a exatidão da fertilidade média. 

Local e profundidade de amostragem

Nas culturas perenes implantadas, tais como fruticultura, cafeicultura, silvicultura, dentre outras, deve-se ter a atenção especial ao local de coleta. Nessas culturas, deve-se realizar amostragem de solo na área de adubação (projeção da copa) e nas entrelinhas (meio da rua) (Figura 3). Nas culturas perenes com espaçamentos menores entre as linhas de plantio, ou seja, em lavouras adensadas, onde os corretivos e adubações são realizadas em área total, pode-se fazer uma amostragem composta, coletando-se a metade das amostras simples na projeção da copa e a outra metade nas entrelinhas. 

Figura 3. Local e profundidade de coleta das amostras em culturas perenes. Coleta de amostras de solo, em três profundidades.  

A profundidade de coleta é variável de acordo com a cultura, manejo, antes ou após a implantação da lavoura. No sistema convencional que envolve o preparo de solo com aração e gradagem deve-se coletar na profundidade 0-20 cm, pois essas práticas promovem a homogeneização o solo. Apesar da maior parte do sistema radicular das plantas estarem concentradas na profundidade de 0-20 cm, considerada a camada arável, deve-se coletar amostras também nas profundidades de 21-40 e 41-60 cm. Essa recomendação visa avaliar impedimento químico para o desenvolvimento do sistema radicular e vale tanto para implantação da lavoura quanto para culturas perenes implantadas. 

Construir a fertilidade no solo em seu perfil tem sido uma prática em expansão para elevar as produtividades e manter a lavoura em boas condições quando há déficit hídrico. A coleta nas camadas mais profundas do solo é indispensável quando pretende-se implementar o sistema de plantio direto e em culturas perenes, que permanecerão por vários anos sem revolver o solo. A amostragem nas camadas mais profundas do solo visa diagnosticar o perfil do solo para a correção quando necessária e ter garantia que o subsolo está em boas condições para o desenvolvimento das raízes. Assim, o sistema radicular das culturas pode crescer em maiores profundidades, absorver maiores quantidades de água e nutrientes, fazendo que as produtividades sejam aumentadas.

Época e frequência de amostragem

Realizar as coletas das amostras na época e frequência adequadas são de grande importância para obter bons resultados com aplicações de insumos na lavoura, tendo em vista o seu baixo custo comparado a todo o investimento a ser feito com corretivos e fertilizantes. As coletas das amostras podem ser realizadas em qualquer época do ano, desde que seja respeitado um período mínimo de 2 meses após a última adubação e com um período de antecedência que permite receber os resultados do laboratório, enviar ao responsável técnico para as recomendações, comprar os corretivos e fertilizantes em tempo hábil e aplicar na época certa. Uma programação compatível com a compra de corretivos e fertilizantes na época da entressafra, pode viabilizar a compra desses insumos por um preço menor.

Deve-se considerar o tempo para enviar ao laboratório e processo de análise e possíveis atrasos pelo laboratório. O período de 6 meses de antecedência da implantação da lavoura e 3 meses das adubações para culturas implantadas são suficientes para uma boa programação nas aplicações dos insumos. Se houver a necessidade de aplicar corretivos de acidez através da calagem é necessário um período de 3 meses para a reação do corretivo no solo.  A coleta no prazo correto permite o planejamento adequado das compras de insumos, podendo conseguir preços mais baixos e entrega rápida. 

A frequência das coletas das amostras é variável em função do manejo, rotação de culturas, intensidade de adubações, número de culturas anuais sucessivas. Para culturas perenes as coletas das amostras devem ser realizadas anualmente na área de adubação correspondente a projeção da copa das plantas e a cada 2 anos nas áreas não adubadas, isto é, nas entrelinhas ou meio da rua. Em áreas de cultivo intenso com várias safras no ano e/ou com irrigação devem ser analisadas com maior frequência em função da maior exportação de nutrientes.

Equipamentos e materiais para amostragem

Os itens para amostragem de solo englobam o equipamento de coleta, balde, faca ou espátula, saquinho plástico com etiqueta para a identificação e barbante. Para a coleta em duas ou mais profundidades na mesma área deve-se ter disponíveis mais baldes, sendo um para cada profundidade, que devem ser limpos e de preferência em plástico com capacidade de 10 a 20 L. A faca ou espátula é utilizado para auxiliar na limpeza dos equipamentos entre cada coleta de amostra. Vários equipamentos podem ser utilizados nas coletas de solo, sendo os mais utilizados no Brasil o trado holandês (Figura 4), trado sonda, trado rosca, pá-de-corte, enxadão, além de equipamentos elétricos como a furadeira elétrica acoplada com haste de rosca. É importante certificar que o equipamento a ser utilizado nas coletas esteja limpo e afiado para obter qualidade e demandar menos tempo de serviço. Os equipamentos que não são de aço inox não devem apresentar ferrugem para evitar contaminação das amostras.

Dependendo do tipo de solo e umidade no momento da coleta alguns equipamentos podem ser mais vantajosos ou recomendados. O tempo e o esforço físico durante as coletas dependerão da umidade, textura e grau de compactação do solo. Os trados são mais fáceis de manusear e coletam volumes menores de solo quando comparados com a pá-de-corte e enxadão. Na comparação entre os trados, o holandês coleta o dobro do volume que os trados de rosca e sonda.

Figura 4. Coleta de amostras de solo com trado sonda. 

O tipo de equipamento influencia no tempo de coleta, volume do solo amostrado e na qualidade da amostragem. Essa qualidade refere-se as alterações dos atributos de fertilidade do solo que podem ser superestimadas ou subestimadas. Com essas alterações, as recomendações de corretivos e adubações podem ficar baixo ou cima do ideal para a nutrição adequada e refletir na produtividade e rentabilidade. Contudo, independente do equipamento de coleta, deve-se coletar as amostras simples na mesma profundidade e o mesmo volume de solo.

Secagem do solo e envio ao laboratório

As amostras devem ser secadas à sombra para o envio ao laboratório (Figura 5). O loca da secagem deve ser livre de trânsito de pessoas e animais para evitar contaminação. Caso as amostras forem enviadas logo após a coleta, não precisa da secagem. Cada amostra deve der identificada com uma etiqueta contendo o nome da propriedade, número ou nome da gleba, cultura, proprietário, localização e outras informações quando houver necessidade. O preenchimento da etiqueta deve ser preferencialmente com caneta que não borre com a umidade. Pode ser enviado pelo correio ou entregue no laboratório. Existem vários laboratórios credenciados no país, isto é, que possuem selo de qualidade, de modo que deve solicitar as análises em um laboratório de confiança, levando em consideração o preço e tempo para a entrega dos resultados.

Figura 5. Amostras em saquinhos para envio ao laboratório.

Considerações finais

É importante destacar que a adubação começa com a análise de solo, continua com a correção de acidez, quando necessário e termina com a aplicação dos fertilizantes. Por isso, a amostragem deve ser realizada com muito cuidado, pois uma pequena porção de terra representara uma grande área e será a base para definir as quantidades de corretivos e fertilizantes. Erros na amostragem não poderão ser corrigidos nas etapas posteriores o que resulta em recomendações de insumos em excesso ou insuficientes para a lavoura podendo ocasionar prejuízos e danos ao meio ambiente. As coletas devem ser realizadas por pessoas treinadas e que conheçam os procedimentos corretos pois o laboratório não corrige falhas ocorridas durante a amostragem no campo.

É sempre bom enviar as amostras para o mesmo laboratório, coletar as amostras com o mesmo profissional e com o mesmo equipamento para o acompanhamento ao longo do tempo, de modo a impedir que esses fatores interfiram os resultados.

Referências 

ALVAREZ V., V.H.; NOVAIS, R.F.; BARROS, N.F.; CANTARUTTI, R.B.; LOPES, A.S. Interpretação dos resultados das análises de solos. In: RIBEIRO, A.C.; GUIMARÃES, P.T.G.; ALVAREZ V., V.H. (Ed.). Recomendações para o uso de corretivos e fertilizantes em Minas Gerais. 5a aproximação. Viçosa: Comissão de Fertilidade do Solo do Estado de Minas Gerais, 1999. p.25-32. 

Cantarutti, R.B.; Barros, N.F.; Martinez, H.E.P.; Novais, R.F. 2007. Avaliação da fertilidade do solo e recomendação de fertilizantes. pp. 769-850. In: Novais, R.F.; Alvarez V., V.H.; Barros, N.F.; Fontes, R.L.F.; Cantarutti, R.B.; Neves, J.C.L. (eds). Fertilidade do solo. Sociedade Brasileira de Ciência do Solo. Viçosa, Brasil.

 

Compartilhe!

Deixe um comentário!