Os solos brasileiros são em sua maioria ácidos, apresentam pH baixo (<5,5), baixos teores de Ca e Mg, elevados teores de Al e Mn abrangendo a camada superficial (0-20 cm) e subsuperficial (>20 cm). Em função disso, restringe a produção agrícola pela limitação do crescimento das raízes e diminuição da absorção de água e nutrientes. Nesse sentido, o manejo da fertilidade do solo e nutrição de plantas são iniciados pelas aplicações de corretivos, quando necessários. Os valores atuais de pH são fornecidos em laudos de análise de solo e os valores alvos são disponibilizados em manuais e tabelas de adubações, como a 5ª aproximação em MG (Ribeiro et al., 1999) e Boletim 100 em SP (Raij et al., 1997). Para maior aproveitamento dos fertilizantes, o processo se inicia pela aplicação de corretivos de acidez como o calcário e condicionadores como o gesso agrícola, quando necessários. Assim, o sistema radicular das plantas desenvolve em maiores profundidades, proporcionando maior absorção de água e nutrientes, refletindo em maiores produtividades, além de ser muito importante em período de veranico.

Acidez e origem

A acidez desses solos é provocada por diversos fatores, como material de origem com baixos teores de cátions básicos, lixiviação de bases no perfil, absorção de nutrientes catiônicos, na qual as plantas liberam quantidades equivalentes de hidrogênio (H+) e a acidificação pela aplicação de fertilizantes, principalmente de nitrogenados. Acidez é a concentração de íons H+ em uma solução ou suspensão qualquer. A unidade básica de medida da acidez é o pH, que é o logaritmo inverso da concentração de H+ na solução, isto é, pH = log (1/H+). A escala de pH varia de zero a 14, sendo o pH 7,0 a neutralidade. Soluções com pH menor que 7,0 são considerados ácidas e as com pH maior são consideradas básicas. Como é expresso em escala logarítmica, para cada variação na unidade do pH, a concentração de íons H+ varia 10 vezes e, por isso, uma pequena diferença de pH pode ser bastante significativa. De modo geral, nos solos, a amplitude de pH, chamado pH em água, varia de 3,0 a 9,0, embora os valores mais comuns ocorram na faixa intermediária. Para a maioria dos solos do Brasil, o pH varia de 4,0 a 7,5.

Tipos de acidez

A acidez do solo não é composta somente pelos H+ presentes na fase líquida do solo, pois parte deles estão adsorvidos às cargas elétricas dos coloides da fase sólida. Assim, a acidez dos solos é dividida em dois tipos: Acidez ativa (na solução do solo) e acidez potencial (H+ adsorvidos). A distribuição quantitativa dos íons hidrogênio nessas duas formas segue o mesmo princípio dos elementos nutrientes, ou seja, há uma pequena quantidade de H+ na solução e, quando estes são consumidos, a fase sólida os repõe.  

Os H+ na solução do solo são chamados de acidez ativa, pois estão atuando diretamente no local onde as plantas obtêm água e nutrientes. A concentração de íons H+ na solução do solo é extremamente pequena em relação à quantidade de íons adsorvidos. Porém, mesmo em baixa concentração afeta diretamente o crescimento das plantas.

Os H+ adsorvidos aos coloides são chamados de acidez potencial, pois podem repor os íons H+ da solução quando estes são consumidos. A acidez potencial é dividida em acidez trocável e não trocável. A acidez trocável são os íons ligados fracamente aos coloides (por ligações físicas) e que podem rapidamente ser transferido para a solução e a acidez não trocável são os íons adsorvidos com alta energia (adsorção química) às bordas dos argilominerais, superfície dos óxidos e matéria orgânica. 

Neutralização da acidez do solo

A acidez do solo pode ser controlada com a aplicação de substâncias que liberam hidroxilas (OH), capazes de neutralizar os prótons (H+) do solo. O calcário é o material mais utilizado. Para ser efetivo, necessita dissolver-se em água, conforme a reação abaixo:

CaCO3 + H2O <=> Ca+2 + HCO3 + OH

HCO3 + H → H2CO3 → H2O + CO2

OH + H → H2O

As bases (OH−) reagem com o Al+3, o Mn+2 e o H+ presentes no solo até a neutralização da acidez do solo ou quando todo calcário aplicado seja exaurido. Além da neutralização da acidez do solo, a calagem proporciona aumentos das concentrações de Ca e Mg em solo¸ criando condições adequadas para o crescimento normal das culturas. A quantidade de base (calcário) para neutralizar a acidez do solo e elevar o seu pH a um patamar pré-estabelecido deve ser suficiente para neutralizar não só a acidez ativa, mas também a acidez potencial.

As classes de interpretação para a acidez ativa do solo, pH em água, podem ser definidas, com base nos critérios químicos e agronômicos. Na classificação química a acidez com o pH <4,5 é acidez muito elevada, de 4,5 a 5 é acidez elevada e de 5,1 a 6, é acidez média. Na classificação agronômica, pH <4,5 é muito baixo, de 4,5 a 5,4 é baixo, 5,5 a 6,0 é bom, 6,1 a 7,0 é alto e > 7,0 é muito alto.

Determinação da necessidade de calagem

Existem vários métodos de calcular a necessidade de calagem, sendo os três mais comuns no Brasil, o da curva de incubação com CaCO3, da solução-tampão SMP e de saturação por bases. Os métodos apresentam variações na dose do corretivo a ser recomendado.

Método de incubação com CaCO3: as amostras são homogeneizadas com doses crescentes de calcário ou com CaCO3 p.a. referentes a 0, 1, 2, 3, 4, 5 t ha-1, acondicionadas em sacos plásticos fechados, com umidade aproximada de 80% da capacidade de campo e incubadas por 45 a 90 dias. É necessário revolver as amostras, uma vez por semana para melhor homogeneização e reação do corretivo. Após a estabilização do pH, as amostras devem ser secadas ao ar, e logo, determina-se os atributos de acidez do solo (pH, Al+3, Ca+2, Mg+2, H+Al, saturação por Al e por bases). Este método não considera a produção de plantas, não é prático para uso de rotina, por ser demorado e trabalhoso, mas é considerado um método padrão, por isso, é muito utilizado em trabalhos de pesquisas e na calibração de outros métodos.

Método da Solução Tampão SMP: baseia-se na medida do decréscimo do pH de uma mistura de solo com uma solução-tampão que após agitação, determina-se o pH do sobrenadante, que é considerado o pHSMP ou índice SMP. Quanto menor o pHSMP maior é a transferência de acidez do solo para a solução tampão, ou seja, maior será a acidez do solo. O pH determinado em suspensão do solo com a solução-tampão SMP permite estabelecer as quantidades de calcário a aplicar, utilizando curvas de neutralização ou tabelas, estabelecidas previamente para a obtenção de um determinado pH. A calibração é feita correlacionando o pHSMP de vários solos de uma determinada região com necessidade de calagem determinada pelo método de incubação com CaCO3 para elevar o pH, em geral, a 5,5, 6,0 ou 6,5. Uma das vantagens desse método é a simplicidade e rapidez para determinar a necessidade de calagem obtida somente com as medidas de pHSMP, além de ser mais preciso por levar em consideração o poder tampão do solo. O poder tampão que está relacionado principalmente com os teores de argila e matéria orgânica do solo, é caracterizado pela resistência que o solo oferece em ter o seu pH modificado quando tratado com bases ou ácidos, ou seja, quanto maior o poder tampão do solo, maior será a quantidade de calcário necessária para elevar o pH em uma unidade. 

Método da saturação por bases: preconiza a elevação da saturação por bases mediante a aplicação de corretivos a valores pré-estabelecidos para a cultura desejada. Esse método considera o poder tampão, indiretamente, por preconizar o uso da CTC a pH 7 no cálculo da necessidade de calagem. A ênfase na saturação por bases se justifica dado que esse atributo guarda relação direta com soma de bases (Ca2+, Mg2+ e K+) trocáveis, além de estar relacionado com pH e com o Al3+ no solo. É um método que apresenta facilidade nos cálculos e adaptações para diferentes culturas. As recomendações desse método são válidas para solos em que o método foi calibrado como é o caso de Minas Gerais e São Paulo, devendo-se tomar cuidado para extrapolar.

Os critérios de recomendação de calcário são regionalizados no Brasil. Na região Sul utiliza-se o método da solução-tampão SMP para atingir o pH em água do solo em 5,5, 6,0 e 6,5, enquanto que, nas regiões Sudeste e Centro Oeste, utiliza-se o método de saturação por bases com recomendações visando atingir o valor de saturação por bases de 30 a 70% de acordo com a cultura.

Corretivos de acidez e condicionadores

Os corretivos utilizados na correção da acidez são a cal virgem, cal hidratado, serpentinitos, silicatos de cálcio, escórias de siderurgia e o calcário tradicional (calcinado), dentre outros, sendo que cada corretivo possui variações quanto a solubilidade, composição química e granulometria. Um composto só pode ser denominado como corretivo da acidez se é capaz de fornecer grupamentos de OH para o meio, como o calcário. A dissociação dos carbonatos presentes no calcário libera OH para o meio, corrigindo a acidez do solo, neutraliza o Al e Mn, fornece Ca e Mg, aumenta a disponibilidade de outros nutrientes e a atividade microbiana. 

A aplicação do calcário fica restrita à camada de 0–20 cm e devido a sua baixa mobilidade no solo necessita de ser incorporado, no entanto, nas camadas subsuperficiais de 20-40 cm ou mais, o calcário não consegue chegar e fazer efeito uma vez que o ânion acompanhante carbonato contido no calcário (CO32-) impede a mobilidade do cálcio no perfil do solo. Em sistema de plantio direto consolidado e em culturas perenes como o café e citros, a aplicação do calcário é feita em superfície sem incorporação limitando a ação efetiva na camada de 0-10 cm. Por essas razões utiliza-se o gesso agrícola (CaSO4.2H2O), considerado condicionador de solo, que apresenta alta mobilidade no perfil, capaz de disponibilizar os íons Ca2+ e SO42- em solução e de ser lixiviado, enriquecendo de nutrientes as camadas subsuperficiais e reduzindo a saturação por Al3+ em profundidade. 

O gesso agrícola, um subproduto da indústria de fertilizantes fosfatados, que contém o sulfato de cálcio (CaSO4.2H2O), portanto, fonte de Ca e S. É um sal neutro e dissocia-se, quando em solução, em Ca2+ e SO4-2. Logo, não apresenta receptores de prótons (OH e HCO3 ), ou seja, não neutraliza a acidez do solo. Dessa forma, é considerado como um condicionador do solo. O ânion acompanhante sulfato (SO42-) imprime elevada mobilidade ao cálcio, permitindo que este nutriente chegue a camadas mais profundas do solo e também se liga ao Al, formando o sulfato de alumínio (AlSO4+), que é uma forma menos tóxica para as plantas. Além do gesso, outros insumos têm sido utilizados como condicionadores de solo como os resíduos orgânicos vegetais, animais, industriais, lodos de esgoto e adubos organo-minerais.

Necessidade de calagem e gessagem

A necessidade de calagem (NC) é regulada pelo pH inicial do solo e pH alvo para a cultura, características do corretivo, contato entre o corretivo e as partículas de solo, poder tampão da acidez do solo e sistema de produção. Existem vários métodos para a determinação da NC, podendo variar de acordo com o solo, estado ou região, tais como: curva de incubação, neutralização da acidez trocável, solução tampão SMP, do pH e do teor de MOS, neutralização do Al e elevação dos teores de Ca e Mg e saturação por bases que é o mais utilizado. 

O método da saturação por bases preconiza a elevação de V a valores pré-estabelecidos para cada cultura que varia de 40 a 80%, possui relação com o pH e considera o poder tampão, indiretamente, pela utilização da CTC a pH 7 no seu cálculo: NC (t/ha) = (V2–V1)T/100, onde: NC = necessidade de calagem (t/ha); V2 = saturação por bases desejada; V1 = saturação por bases do solo; T = CTC a pH 7. 

A NC indica a quantidade de CaCO3 ou calcário com poder de neutralização total (PRNT) de 100% a ser incorporado por hectare, na camada de 0-20 cm. Mas a quantidade a ser aplicada deve-se levar em consideração a superfície do solo a ser coberta (SC em %) pela calagem, a profundidade de incorporação (P em cm) e o PRNT do calcário. Portanto, a quantidade de calcário a ser utilizada será: QC= NC x (SC/100) x (P/20) x (100/PRNT), em t ha-1. Na escolha do corretivo deve-se levar em consideração a qualidade do corretivo, a relação Ca/Mg e os aspectos econômicos, visando aumentar os benefícios e diminuir os custos. 

O gesso deve ser utilizado quando a camada subsuperficial de 20-40 cm ou mais profundas, apresentar teor de Ca2+ < a 0,4 cmolc/dm3, teor de Al+3 > que 0,5 cmolc/dm3 ou a saturação por Al+3 > que 30%. Para o cálculo da necessidade de gessagem (NG) existem algumas fórmulas baseada nas características químicas e físicas do solo, sendo determina de acordo com base na textura (teor de argila), fósforo remanescente e com base na NC. O cálculo baseado na NC é feito pela seguinte fórmula: NG = 0,30 x NC, onde: NG = Necessidade de gesso, em t/ha e NC = Necessidade de calcário, em t/ha, mas a quantidade de gesso, segue a seguinte expressão: QG = NG x (SC/100) x (PF/20), onde: QG = Quantidade de gesso para corrigir determinada camada de solo, em t/ha. NG = Necessidade de gesso, em t/ha. SC = Superfície coberta pelo gesso (%). PF = Espessura da camada onde o gesso deverá agir (cm). Para a camada de 20 a 40 cm utiliza-se PF = 20 cm; para a camada de 30 a 60 cm utiliza-se PF = 30 cm.

Escolha do corretivo

A substância padrão na correção da acidez do solo é o CaCO3 que é atribuído o poder neutralizante (PN) de 100%. Com isto, o poder de neutralização é expresso em “pencentagem equivalente em carbonato de cálcio”, ou, % ECaCO3. A eficiência dos corretivos depende principalmente do teor de substâncias capazes de liberar OH- ou HCO3- (neutralizantes) e tamanho das partículas (grau de moagem) que determina a taxa de reatividade ou eficiência relativa (ER). Os corretivos mais utilizados são os calcários, cal virgem agrícola, cal hidratado agrícola, escórias, calcário calcinado agrícola, dentre outros, sendo que cada corretivo possui variações quanto a solubilidade, composição química e granulometria. A qualidade dos corretivos varia com a granulometria e com o poder de neutralização (PN) do material. 

O PN do corretivo refere-se à quantidade de ácido que o mesmo é capaz de neutralizar, o que depende de sua natureza química e do grau de pureza. A legislação brasileira exige para os calcários comuns, calcários calcinados, cal virgem e cal hidratada valores de PN de no mínimo 67%, 80%, 125% e 94%, respectivamente. Para ser considerada uma escória básica o PN mínimo exigido é de 60%. A ER do corretivo refere-se a granulometria, pois a velocidade de reação depende do tamanho das partículas que interfere na área superficial de contato do corretivo com as partículas do solo. Quanto menor a partícula, maior é a velocidade de reação. A cal virgem e hidratada se apresenta na forma de pó, de forma que não há problemas quanto a granulometria. Por outro lado, para os calcários o fator granulometria é muito importante, pois o tamanho das partículas é variável, contendo partículas que variam desde pó até 2 mm de diâmetro. A qualidade final do corretivo de acidez do solo é dada pela combinação do seu PN e da sua ER no índice   conhecido   como Poder   Relativo de Neutralização Total (PRNT), de acordo com a fórmula: PRNT = (PN x ER)/100.

O corretivo mais indicado e mais utilizado na prática da calagem é o calcário, obtido pela moagem de rochas calcárias, cujos constituintes químicos são os carbonatos (CaCO3 e MgCO3). Todo calcário é, relativamente rico em Ca, mas o teor de Mg é variável, por isso, os calcários são classificados quanto a % MgO: menos que 5% de MgO, entre 5-12% de MgO e maior que 12% de MgO. O teor de Mg no calcário é uma característica importante a ser considerada na escolha do corretivo, pois, se a análise de solo indicar que o solo está deficiente em magnésio, é recomendado a escolha do corretivo rico neste nutriente. Se o teor de Mg for muito baixo ou baixo, ou se o Mg trocável representar menos de 5% na CTC a pH 7, é recomendável o uso do calcário com maior que 12% de MgO. Na escolha do corretivo deve-se levar em consideração a qualidade do corretivo, a relação Ca/Mg e os aspectos econômicos, visando aumentar os benefícios e diminuir os custos.

Época e métodos de aplicação

Os corretivos de acidez pela baixa solubilidade devem ser aplicados em torno de três meses antes do plantio para que as reações ocorram, sendo necessário disponibilidade de água no solo. No cultivo convencional é aplicado a lanço e incorporado na camada de 0-20 cm. No sistema de plantio direto é incorporado na camada de 0-20 cm na fase de implantação, mas no sistema consolidado é plicado a lanço em superfície. A frequência de aplicação varia de acordo com a textura do solo, intensidade de adubação, granulometria do corretivo e do manejo da área, com acompanhamento pela análise de solo. O gesso pode ser aplicado em cobertura, sem necessidade de incorporação, pois é muito móvel no solo, podendo também ser aplicado com o calcário.

Considerações finais

A aplicação de corretivos de acidez no solo, promove a elevação do pH, a neutralização da acidez trocável, a redução da acidez potencial e o aumento da disponibilidade de Ca2+ e Mg2+. Os aumentos nos valores de pH são atribuídos à neutralização dos íons H+ pelos íons OH e pela ocupação dos sítios de troca pelos cátions acompanhantes dos corretivos adicionados. A redução do Al+3 e saturação por Al+3 ocorre devido à precipitação do Al3+ na forma de Al(OH)3. É importante destacar que na correção da acidez do solo deve-se levar em consideração a profundidade efetiva das raízes, com correções no perfil de solo e não apenas a camada de 0-20 cm (camada superficial) para não limitar o crescimento das raízes das plantas pela barreira química.

Referências

RIBEIRO, A.C. et al. Recomendações para o uso de corretivos e fertilizantes em Minas Gerais, 5ª aproximação. Viçosa: Comissão de fertilidade do solo do Estado de Minas Gerais, 1999. 359 p.

SOUSA, D. M. G. et al. Acidez do solo e sua correção. In: NOVAIS, R. F. et al. Fertilidade do solo. Viçosa, MG: SBCS, 2007. p. 206-266.

 

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Os solos brasileiros são em sua maioria ácidos, apresentam pH baixo (<5,5), baixos teores de Ca e Mg, elevados teores de Al e Mn abrangendo a camada superficial (0-20 cm) e subsuperficial (>20 cm). Em função disso, restringe a produção agrícola pela limitação do crescimento das raízes e diminuição da absorção de água e nutrientes. Nesse sentido, o manejo da fertilidade do solo e nutrição de plantas são iniciados pelas aplicações de corretivos, quando necessários. Os valores atuais de pH são fornecidos em laudos de análise de solo e os valores alvos são disponibilizados em manuais e tabelas de adubações, como a 5ª aproximação em MG (Ribeiro et al., 1999) e Boletim 100 em SP (Raij et al., 1997). Para maior aproveitamento dos fertilizantes, o processo se inicia pela aplicação de corretivos de acidez como o calcário e condicionadores como o gesso agrícola, quando necessários. Assim, o sistema radicular das plantas desenvolve em maiores profundidades, proporcionando maior absorção de água e nutrientes, refletindo em maiores produtividades, além de ser muito importante em período de veranico.

Acidez e origem

A acidez desses solos é provocada por diversos fatores, como material de origem com baixos teores de cátions básicos, lixiviação de bases no perfil, absorção de nutrientes catiônicos, na qual as plantas liberam quantidades equivalentes de hidrogênio (H+) e a acidificação pela aplicação de fertilizantes, principalmente de nitrogenados. Acidez é a concentração de íons H+ em uma solução ou suspensão qualquer. A unidade básica de medida da acidez é o pH, que é o logaritmo inverso da concentração de H+ na solução, isto é, pH = log (1/H+). A escala de pH varia de zero a 14, sendo o pH 7,0 a neutralidade. Soluções com pH menor que 7,0 são considerados ácidas e as com pH maior são consideradas básicas. Como é expresso em escala logarítmica, para cada variação na unidade do pH, a concentração de íons H+ varia 10 vezes e, por isso, uma pequena diferença de pH pode ser bastante significativa. De modo geral, nos solos, a amplitude de pH, chamado pH em água, varia de 3,0 a 9,0, embora os valores mais comuns ocorram na faixa intermediária. Para a maioria dos solos do Brasil, o pH varia de 4,0 a 7,5.

Tipos de acidez

A acidez do solo não é composta somente pelos H+ presentes na fase líquida do solo, pois parte deles estão adsorvidos às cargas elétricas dos coloides da fase sólida. Assim, a acidez dos solos é dividida em dois tipos: Acidez ativa (na solução do solo) e acidez potencial (H+ adsorvidos). A distribuição quantitativa dos íons hidrogênio nessas duas formas segue o mesmo princípio dos elementos nutrientes, ou seja, há uma pequena quantidade de H+ na solução e, quando estes são consumidos, a fase sólida os repõe.  

Os H+ na solução do solo são chamados de acidez ativa, pois estão atuando diretamente no local onde as plantas obtêm água e nutrientes. A concentração de íons H+ na solução do solo é extremamente pequena em relação à quantidade de íons adsorvidos. Porém, mesmo em baixa concentração afeta diretamente o crescimento das plantas.

Os H+ adsorvidos aos coloides são chamados de acidez potencial, pois podem repor os íons H+ da solução quando estes são consumidos. A acidez potencial é dividida em acidez trocável e não trocável. A acidez trocável são os íons ligados fracamente aos coloides (por ligações físicas) e que podem rapidamente ser transferido para a solução e a acidez não trocável são os íons adsorvidos com alta energia (adsorção química) às bordas dos argilominerais, superfície dos óxidos e matéria orgânica. 

Neutralização da acidez do solo

A acidez do solo pode ser controlada com a aplicação de substâncias que liberam hidroxilas (OH), capazes de neutralizar os prótons (H+) do solo. O calcário é o material mais utilizado. Para ser efetivo, necessita dissolver-se em água, conforme a reação abaixo:

CaCO3 + H2O <=> Ca+2 + HCO3 + OH

HCO3 + H → H2CO3 → H2O + CO2

OH + H → H2O

As bases (OH−) reagem com o Al+3, o Mn+2 e o H+ presentes no solo até a neutralização da acidez do solo ou quando todo calcário aplicado seja exaurido. Além da neutralização da acidez do solo, a calagem proporciona aumentos das concentrações de Ca e Mg em solo¸ criando condições adequadas para o crescimento normal das culturas. A quantidade de base (calcário) para neutralizar a acidez do solo e elevar o seu pH a um patamar pré-estabelecido deve ser suficiente para neutralizar não só a acidez ativa, mas também a acidez potencial.

As classes de interpretação para a acidez ativa do solo, pH em água, podem ser definidas, com base nos critérios químicos e agronômicos. Na classificação química a acidez com o pH <4,5 é acidez muito elevada, de 4,5 a 5 é acidez elevada e de 5,1 a 6, é acidez média. Na classificação agronômica, pH <4,5 é muito baixo, de 4,5 a 5,4 é baixo, 5,5 a 6,0 é bom, 6,1 a 7,0 é alto e > 7,0 é muito alto.

Determinação da necessidade de calagem

Existem vários métodos de calcular a necessidade de calagem, sendo os três mais comuns no Brasil, o da curva de incubação com CaCO3, da solução-tampão SMP e de saturação por bases. Os métodos apresentam variações na dose do corretivo a ser recomendado.

Método de incubação com CaCO3: as amostras são homogeneizadas com doses crescentes de calcário ou com CaCO3 p.a. referentes a 0, 1, 2, 3, 4, 5 t ha-1, acondicionadas em sacos plásticos fechados, com umidade aproximada de 80% da capacidade de campo e incubadas por 45 a 90 dias. É necessário revolver as amostras, uma vez por semana para melhor homogeneização e reação do corretivo. Após a estabilização do pH, as amostras devem ser secadas ao ar, e logo, determina-se os atributos de acidez do solo (pH, Al+3, Ca+2, Mg+2, H+Al, saturação por Al e por bases). Este método não considera a produção de plantas, não é prático para uso de rotina, por ser demorado e trabalhoso, mas é considerado um método padrão, por isso, é muito utilizado em trabalhos de pesquisas e na calibração de outros métodos.

Método da Solução Tampão SMP: baseia-se na medida do decréscimo do pH de uma mistura de solo com uma solução-tampão que após agitação, determina-se o pH do sobrenadante, que é considerado o pHSMP ou índice SMP. Quanto menor o pHSMP maior é a transferência de acidez do solo para a solução tampão, ou seja, maior será a acidez do solo. O pH determinado em suspensão do solo com a solução-tampão SMP permite estabelecer as quantidades de calcário a aplicar, utilizando curvas de neutralização ou tabelas, estabelecidas previamente para a obtenção de um determinado pH. A calibração é feita correlacionando o pHSMP de vários solos de uma determinada região com necessidade de calagem determinada pelo método de incubação com CaCO3 para elevar o pH, em geral, a 5,5, 6,0 ou 6,5. Uma das vantagens desse método é a simplicidade e rapidez para determinar a necessidade de calagem obtida somente com as medidas de pHSMP, além de ser mais preciso por levar em consideração o poder tampão do solo. O poder tampão que está relacionado principalmente com os teores de argila e matéria orgânica do solo, é caracterizado pela resistência que o solo oferece em ter o seu pH modificado quando tratado com bases ou ácidos, ou seja, quanto maior o poder tampão do solo, maior será a quantidade de calcário necessária para elevar o pH em uma unidade. 

Método da saturação por bases: preconiza a elevação da saturação por bases mediante a aplicação de corretivos a valores pré-estabelecidos para a cultura desejada. Esse método considera o poder tampão, indiretamente, por preconizar o uso da CTC a pH 7 no cálculo da necessidade de calagem. A ênfase na saturação por bases se justifica dado que esse atributo guarda relação direta com soma de bases (Ca2+, Mg2+ e K+) trocáveis, além de estar relacionado com pH e com o Al3+ no solo. É um método que apresenta facilidade nos cálculos e adaptações para diferentes culturas. As recomendações desse método são válidas para solos em que o método foi calibrado como é o caso de Minas Gerais e São Paulo, devendo-se tomar cuidado para extrapolar.

Os critérios de recomendação de calcário são regionalizados no Brasil. Na região Sul utiliza-se o método da solução-tampão SMP para atingir o pH em água do solo em 5,5, 6,0 e 6,5, enquanto que, nas regiões Sudeste e Centro Oeste, utiliza-se o método de saturação por bases com recomendações visando atingir o valor de saturação por bases de 30 a 70% de acordo com a cultura.

Corretivos de acidez e condicionadores

Os corretivos utilizados na correção da acidez são a cal virgem, cal hidratado, serpentinitos, silicatos de cálcio, escórias de siderurgia e o calcário tradicional (calcinado), dentre outros, sendo que cada corretivo possui variações quanto a solubilidade, composição química e granulometria. Um composto só pode ser denominado como corretivo da acidez se é capaz de fornecer grupamentos de OH para o meio, como o calcário. A dissociação dos carbonatos presentes no calcário libera OH para o meio, corrigindo a acidez do solo, neutraliza o Al e Mn, fornece Ca e Mg, aumenta a disponibilidade de outros nutrientes e a atividade microbiana. 

A aplicação do calcário fica restrita à camada de 0–20 cm e devido a sua baixa mobilidade no solo necessita de ser incorporado, no entanto, nas camadas subsuperficiais de 20-40 cm ou mais, o calcário não consegue chegar e fazer efeito uma vez que o ânion acompanhante carbonato contido no calcário (CO32-) impede a mobilidade do cálcio no perfil do solo. Em sistema de plantio direto consolidado e em culturas perenes como o café e citros, a aplicação do calcário é feita em superfície sem incorporação limitando a ação efetiva na camada de 0-10 cm. Por essas razões utiliza-se o gesso agrícola (CaSO4.2H2O), considerado condicionador de solo, que apresenta alta mobilidade no perfil, capaz de disponibilizar os íons Ca2+ e SO42- em solução e de ser lixiviado, enriquecendo de nutrientes as camadas subsuperficiais e reduzindo a saturação por Al3+ em profundidade. 

O gesso agrícola, um subproduto da indústria de fertilizantes fosfatados, que contém o sulfato de cálcio (CaSO4.2H2O), portanto, fonte de Ca e S. É um sal neutro e dissocia-se, quando em solução, em Ca2+ e SO4-2. Logo, não apresenta receptores de prótons (OH e HCO3 ), ou seja, não neutraliza a acidez do solo. Dessa forma, é considerado como um condicionador do solo. O ânion acompanhante sulfato (SO42-) imprime elevada mobilidade ao cálcio, permitindo que este nutriente chegue a camadas mais profundas do solo e também se liga ao Al, formando o sulfato de alumínio (AlSO4+), que é uma forma menos tóxica para as plantas. Além do gesso, outros insumos têm sido utilizados como condicionadores de solo como os resíduos orgânicos vegetais, animais, industriais, lodos de esgoto e adubos organo-minerais.

Necessidade de calagem e gessagem

A necessidade de calagem (NC) é regulada pelo pH inicial do solo e pH alvo para a cultura, características do corretivo, contato entre o corretivo e as partículas de solo, poder tampão da acidez do solo e sistema de produção. Existem vários métodos para a determinação da NC, podendo variar de acordo com o solo, estado ou região, tais como: curva de incubação, neutralização da acidez trocável, solução tampão SMP, do pH e do teor de MOS, neutralização do Al e elevação dos teores de Ca e Mg e saturação por bases que é o mais utilizado. 

O método da saturação por bases preconiza a elevação de V a valores pré-estabelecidos para cada cultura que varia de 40 a 80%, possui relação com o pH e considera o poder tampão, indiretamente, pela utilização da CTC a pH 7 no seu cálculo: NC (t/ha) = (V2–V1)T/100, onde: NC = necessidade de calagem (t/ha); V2 = saturação por bases desejada; V1 = saturação por bases do solo; T = CTC a pH 7. 

A NC indica a quantidade de CaCO3 ou calcário com poder de neutralização total (PRNT) de 100% a ser incorporado por hectare, na camada de 0-20 cm. Mas a quantidade a ser aplicada deve-se levar em consideração a superfície do solo a ser coberta (SC em %) pela calagem, a profundidade de incorporação (P em cm) e o PRNT do calcário. Portanto, a quantidade de calcário a ser utilizada será: QC= NC x (SC/100) x (P/20) x (100/PRNT), em t ha-1. Na escolha do corretivo deve-se levar em consideração a qualidade do corretivo, a relação Ca/Mg e os aspectos econômicos, visando aumentar os benefícios e diminuir os custos. 

O gesso deve ser utilizado quando a camada subsuperficial de 20-40 cm ou mais profundas, apresentar teor de Ca2+ < a 0,4 cmolc/dm3, teor de Al+3 > que 0,5 cmolc/dm3 ou a saturação por Al+3 > que 30%. Para o cálculo da necessidade de gessagem (NG) existem algumas fórmulas baseada nas características químicas e físicas do solo, sendo determina de acordo com base na textura (teor de argila), fósforo remanescente e com base na NC. O cálculo baseado na NC é feito pela seguinte fórmula: NG = 0,30 x NC, onde: NG = Necessidade de gesso, em t/ha e NC = Necessidade de calcário, em t/ha, mas a quantidade de gesso, segue a seguinte expressão: QG = NG x (SC/100) x (PF/20), onde: QG = Quantidade de gesso para corrigir determinada camada de solo, em t/ha. NG = Necessidade de gesso, em t/ha. SC = Superfície coberta pelo gesso (%). PF = Espessura da camada onde o gesso deverá agir (cm). Para a camada de 20 a 40 cm utiliza-se PF = 20 cm; para a camada de 30 a 60 cm utiliza-se PF = 30 cm.

Escolha do corretivo

A substância padrão na correção da acidez do solo é o CaCO3 que é atribuído o poder neutralizante (PN) de 100%. Com isto, o poder de neutralização é expresso em “pencentagem equivalente em carbonato de cálcio”, ou, % ECaCO3. A eficiência dos corretivos depende principalmente do teor de substâncias capazes de liberar OH- ou HCO3- (neutralizantes) e tamanho das partículas (grau de moagem) que determina a taxa de reatividade ou eficiência relativa (ER). Os corretivos mais utilizados são os calcários, cal virgem agrícola, cal hidratado agrícola, escórias, calcário calcinado agrícola, dentre outros, sendo que cada corretivo possui variações quanto a solubilidade, composição química e granulometria. A qualidade dos corretivos varia com a granulometria e com o poder de neutralização (PN) do material. 

O PN do corretivo refere-se à quantidade de ácido que o mesmo é capaz de neutralizar, o que depende de sua natureza química e do grau de pureza. A legislação brasileira exige para os calcários comuns, calcários calcinados, cal virgem e cal hidratada valores de PN de no mínimo 67%, 80%, 125% e 94%, respectivamente. Para ser considerada uma escória básica o PN mínimo exigido é de 60%. A ER do corretivo refere-se a granulometria, pois a velocidade de reação depende do tamanho das partículas que interfere na área superficial de contato do corretivo com as partículas do solo. Quanto menor a partícula, maior é a velocidade de reação. A cal virgem e hidratada se apresenta na forma de pó, de forma que não há problemas quanto a granulometria. Por outro lado, para os calcários o fator granulometria é muito importante, pois o tamanho das partículas é variável, contendo partículas que variam desde pó até 2 mm de diâmetro. A qualidade final do corretivo de acidez do solo é dada pela combinação do seu PN e da sua ER no índice   conhecido   como Poder   Relativo de Neutralização Total (PRNT), de acordo com a fórmula: PRNT = (PN x ER)/100.

O corretivo mais indicado e mais utilizado na prática da calagem é o calcário, obtido pela moagem de rochas calcárias, cujos constituintes químicos são os carbonatos (CaCO3 e MgCO3). Todo calcário é, relativamente rico em Ca, mas o teor de Mg é variável, por isso, os calcários são classificados quanto a % MgO: menos que 5% de MgO, entre 5-12% de MgO e maior que 12% de MgO. O teor de Mg no calcário é uma característica importante a ser considerada na escolha do corretivo, pois, se a análise de solo indicar que o solo está deficiente em magnésio, é recomendado a escolha do corretivo rico neste nutriente. Se o teor de Mg for muito baixo ou baixo, ou se o Mg trocável representar menos de 5% na CTC a pH 7, é recomendável o uso do calcário com maior que 12% de MgO. Na escolha do corretivo deve-se levar em consideração a qualidade do corretivo, a relação Ca/Mg e os aspectos econômicos, visando aumentar os benefícios e diminuir os custos.

Época e métodos de aplicação

Os corretivos de acidez pela baixa solubilidade devem ser aplicados em torno de três meses antes do plantio para que as reações ocorram, sendo necessário disponibilidade de água no solo. No cultivo convencional é aplicado a lanço e incorporado na camada de 0-20 cm. No sistema de plantio direto é incorporado na camada de 0-20 cm na fase de implantação, mas no sistema consolidado é plicado a lanço em superfície. A frequência de aplicação varia de acordo com a textura do solo, intensidade de adubação, granulometria do corretivo e do manejo da área, com acompanhamento pela análise de solo. O gesso pode ser aplicado em cobertura, sem necessidade de incorporação, pois é muito móvel no solo, podendo também ser aplicado com o calcário.

Considerações finais

A aplicação de corretivos de acidez no solo, promove a elevação do pH, a neutralização da acidez trocável, a redução da acidez potencial e o aumento da disponibilidade de Ca2+ e Mg2+. Os aumentos nos valores de pH são atribuídos à neutralização dos íons H+ pelos íons OH e pela ocupação dos sítios de troca pelos cátions acompanhantes dos corretivos adicionados. A redução do Al+3 e saturação por Al+3 ocorre devido à precipitação do Al3+ na forma de Al(OH)3. É importante destacar que na correção da acidez do solo deve-se levar em consideração a profundidade efetiva das raízes, com correções no perfil de solo e não apenas a camada de 0-20 cm (camada superficial) para não limitar o crescimento das raízes das plantas pela barreira química.

Referências

RIBEIRO, A.C. et al. Recomendações para o uso de corretivos e fertilizantes em Minas Gerais, 5ª aproximação. Viçosa: Comissão de fertilidade do solo do Estado de Minas Gerais, 1999. 359 p.

SOUSA, D. M. G. et al. Acidez do solo e sua correção. In: NOVAIS, R. F. et al. Fertilidade do solo. Viçosa, MG: SBCS, 2007. p. 206-266.

 

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