Intervenção humana nos ecossistemas naturais
Um sistema é definido como um conjunto ou coleção de coisas unidas ou relacionadas de tal maneira que formam e atuam como uma unidade. Um exemplo é o Sistema Solar, que compreende ao conjunto constituído pelo Sol, pelos planetas e outros corpos celestes. Outro exemplo é o ecossistema, um sistema ecológico em que os organismos vivos (como animais, vegetais e microrganismos) interagem entre si e com o ambiente físico (como água, atmosfera, solo e rochas). Percebe-se que as propriedades de um sistema não dependem só de seus componentes, senão da inter-relação existente entre eles.
A partir da evolução humana no Planeta Terra, o ser humano passou a intervir nos ecossistemas naturais. Com o desenvolvimento da agricultura, a humanidade conseguiu se estabelecer em nosso Planeta. Assim, o desenvolvimento da agricultura esteve diretamente associado à formação das primeiras civilizações mundiais. Atualmente, a agricultura é responsável pela produção de alimentos e fibras, geração de emprego e renda no mundo inteiro. Contudo, a intervenção humana nos ecossistemas naturais gerou uma série de impactos ambientais negativos, como o desmatamento, a degradação dos solos, a poluição dos recursos hídricos e da atmosfera etc. Dessa forma, para garantir a manutenção da produção de alimentos, a sociedade deve ter a responsabilidade de conduzir de maneira sustentável o manejo dos agroecossistemas.
Agroecossistemas sustentáveis
Os agroecossistemas são um tipo especial de ecossistema totalmente construídos pelo ser humano, onde há, pelo menos, uma população de utilidade agrícola. Entretanto, o uso inadequado dos recursos naturais em um agroecossistema causa impactos negativos, muitas das vezes irreversíveis. E isso põe em risco a capacidade que esses sistemas possuem para continuar sendo um celeiro de alimentos para a humanidade. São cada vez mais comuns problemas relacionados com a erosão do solo, poluição das águas, secas, redução da biodiversidade, lixiviação de nutrientes, compactação do solo, contaminação por agrotóxicos e pesticidas etc.
Nesse contexto, surgiu o conceito de “Agroecossistemas Sustentáveis”. Desenvolvimento sustentável é aquele capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das gerações futuras. Assim, uma agricultura sustentável refere-se ao modo de fazer agricultura buscando assegurar produtividades sustentadas a longo prazo, através do uso de práticas de manejo ecologicamente seguras. Dessa forma, a adoção de um agroecossistema sustentável é uma alternativa capaz de conduzir uma agricultura altamente produtiva, mas sem degradar o meio ambiente e comprometer o uso dos recursos naturais.
Manejo do solo em agroecossistemas sustentáveis
Para conseguir uma agricultura altamente produtiva e rentável, precisamos manter ou melhorar a qualidade do solo. Para isso, o manejo sustentável do solo é a peça fundamental. No modelo de agricultura sustentável, várias práticas são adotadas visando o melhor uso do solo. Essas práticas de manejo podem contribuir para o aumento de produtividade das culturas, seja diretamente através do fornecimento e ciclagem de nutrientes e acúmulo de matéria orgânica no solo, ou indiretamente, através da melhoria da qualidade física, química e biológica do solo, maior armazenamento de água no solo, manutenção da temperatura do solo, etc.
Portanto, essas práticas contribuem para o aumento da produtividade e, consequentemente, aumento da renda do agricultor no médio e longo prazo. Além disso, são práticas que contribuem para a preservação ambiental dos ecossistemas agrícolas. Separamos algumas das principais práticas de manejo do solo que você poderá adotar em sua propriedade. Confira:
Cultivo mínimo
Como o próprio nome sugere, consiste em um preparo mínimo do solo. O uso de máquinas agrícolas sobre o solo é mínimo, com o objetivo revolver minimamente o solo e evitar a sua compactação. Se o solo já se encontrar compactado, sugere-se o uso da subsolagem ou do cultivo de leguminosas descompactadoras para reverter a compactação. Além disso, é fundamental manter o solo coberto permanentemente.
Dessa forma, essa prática contribui para o aumento da estabilidade de agregados e da matéria orgânica do solo, redução da erosão, maior infiltração e armazenamento de água no solo, melhoria da fertilidade do solo, aumento da atividade microbiana, redução de emissões de poluentes por máquinas agrícolas, redução da adsorção de fosfatos e das perdas de nutrientes por lixiviação, dentre outros.
Cobertura do solo
Consiste em manter o solo sempre coberto, com o objetivo de reduzir as perdas de solo e nutrientes, e aumentar a infiltração da água no solo. A cobertura do solo pode ser feita com materiais sintéticos, como serragem e plásticos, mas a cobertura com materiais vegetais é a mais recomendada, pois além de mais barata, contribui para outros serviços ecossistêmicos. A cobertura vegetal pode ser feita a partir de plantas vivas ou mortas, como por exemplo, os restos culturas e a biomassa de plantas espontâneas.
Assim, essa prática, além de proteger o solo contra erosão, aumenta a retenção de água no solo, promove a reciclagem de nutrientes, reduz a temperatura do solo, reduz as perdas de água por evapotranspiração, controla a incidência de plantas invasoras, aumenta os teores de matéria orgânica e nutrientes etc.
Rotação e sucessão de culturas
A rotação de culturas consiste em semear diferentes espécies vegetais, uma após a colheita da outra, dentro do mesmo ano agrícola. Enquanto a sucessão de culturas é a alternância de espécies vegetais ocupando o mesmo espaço físico e período do ano. Essas técnicas aumentam a biodiversidade, quebram o ciclo de pragas e patógenos, sanam problemas fitossanitários, fornecem nutrientes para a cultura subsequente, aumentam os teores de matéria orgânica do solo, dentre outros.
Adubação verde
Compreende ao uso de plantas que são cultivadas em rotação ou associação com cultivos comerciais, visando manter, melhorar ou restaurar as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo. A biomassa vegetal pode ser incorporada ao solo ou mantida sobre a sua superfície.
Dessa forma, essa prática traz inúmeros benefícios ao agroecossistema, como por exemplo, proteção do solo contra os processos erosivos, maior infiltração e armazenamento de água no solo, maior acúmulo de matéria orgânica, reciclagem e fornecimento de nutrientes, descompactação do solo, controle de plantas invasoras, controle de nematoides do solo.
Adubação orgânica
São utilizados diversos materiais de origem animal ou vegetal para aumentar a fertilidade do solo. Os principais materiais utilizados como adubos orgânicos são estercos de animais, compostagem, vermicompostagem e biofertilizantes. Esses materiais, quando adicionados ao solo, aumentam os teores de nutrientes ao longo do tempo, além de aumentarem os teores de matéria orgânica e a atividade microbiana.
Além disso, o uso da adubação orgânica contribui para a melhoria das propriedades físicas, químicas e biológicas do solo, contribuindo com a melhora da sua qualidade. Os adubos orgânicos também podem ser associados aos adubos minerais, aumentando ainda mais a eficiência de ambos os adubos a partir da adubação organomineral.
Manejo de planta em agroecossistemas sustentáveis
Vimos no tópico anterior algumas técnicas de manejo do solo que podem ser adotadas em agroecossistemas sustentáveis. Contudo, apenas o manejo adequado do solo não é suficiente para alcançar os níveis produtivos desejados, por isso, é imprescindível o manejo correto das plantas.
Portanto, concomitantemente ao manejo do solo, as plantas devem ser manejadas visando a maximização da produção. Em um agroecossistema sustentável, são adotadas várias técnicas que, além de aumentar a produtividade, garantem a conservação dos recursos naturais e a preservação do meio ambiente. Separamos algumas práticas de manejo dos vegetais, que podem ser simples, mas não devem ser ignoradas pelos produtores rurais. A adoção dessas práticas pode fazer toda a diferença em um sistema de produção agrícola. Confira:
Espaçamento ideal
A adoção do espaçamento entre plantas e entrelinhas ideal para a cultura desejada é uma técnica que visa melhorar o plantio, aumentar os níveis de produtividade e assegurar o sucesso da safra. Mas qual o espaçamento ideal para a implementação de determinada cultura? Esse é um questionamento muito frequente por parte de muitos produtores rurais. O espaçamento ideal é aquele que está mais condizente com a realidade da área de produção e com o que é produzido.
Assim, os agricultores devem pesquisar sobre o espaçamento de uma cultura antes de sua implementação, pois isso é um dos principais fatores que contribuem para otimização da produtividade da lavoura. Para saber o espaçamento ideal, você deve considerar as condições do solo, o regime hídrico, a variedade da cultura, o sistema de cultivo (monocultivo ou consorciado), o sistema de manejo (convencional ou sustentável) e a operacionalidade da aplicação.
Época de plantio
A fixação da data de plantio é feita, principalmente, a partir dos dados climáticos de uma região e das características da cultura a ser implementada. A época ideal de plantio varia de cultura para cultura e, mesmo uma única cultura, pode ter diferentes épocas de plantio dependendo da região. É necessário que o agricultor se planeje e se atente às características que influenciam a escolha da data ideal para o plantio de uma cultura em determinada região. Temos um outro texto específico sobre época de plantio, confira.
Podas e desbastes
Compreendem a operações agrícolas que visam eliminar os rebentos em excesso. Podem ser utilizadas com diversos objetivos, como por exemplo: controlar disseminações de patógenos, estimular o crescimento e desenvolvimento das plantas, renovar o pomar possibilitando a rebrota, melhorar a sanidade das plantas, controlar o porte e a forma das plantas etc.
Assim, de acordo com o objetivo a ser alcançado, há diversos tipos de poda, por exemplo: poda de formação, de manutenção, de frutificação, de rejuvenescimento ou de floração. Seja qual for o objetivo, para a realização da poda ou do desbaste é necessário o uso de ferramentas adequadas, como as tesouras de poda. É importante higienizar a ferramenta de uma planta para a outra a fim de evitar a disseminação de doenças entre as plantas.
Escolha do cultivar
Após escolher a cultura a ser implementada, o agricultor precisar optar pelo cultivar. A escolha do cultivar ideal é importante para maximizar a produção e garantir o maior sucesso da safra. Para a escolha da melhor opção, o produtor deve levantar informações sobre o potencial produtivo da região, as cultivares mais adaptadas, o histórico da propriedade, as características climáticas, incidência de pragas e patógenos na região, melhor custo/benefício, entre outros.
Manejo do ambiente em agroecossistemas sustentáveis
Em agroecossistemas sustentáveis, os ambientes são manejados de forma a possibilitar o maior e o melhor uso do solo, bem como o alcance do maior potencial produtivo das plantas. Dessa forma, o solo, as plantas e os demais componentes dos agroecossistemas são manejados de forma integrada para o maior aproveitamento dos recursos disponíveis.
Nesse contexto, a diversificação do ambiente é uma técnica primordial para o desenho de ambientes sustentáveis. Separamos algumas técnicas de manejo que podem contribuir para o aumento da biodiversidade em agroecossistemas sustentáveis. Confira:
Cercas vivas
Consiste na utilização de arbustos com a função de deliminar uma área. Além disso, as cercas vivas atuam como filtro natural segurando a poeira, pó de asfalto e outras impurezas; auxiliam no controle e desvio do vento excessivo; harmonizam a estética do local; protegem o plantio principal; atraem polinizadores; atuam como repelente de pragas etc.
Além de todas essas vantagens, o uso de cercas vivas é economicamente viável, pois reduz os gastos com implementação, manutenção e renovação de madeiras utilizadas para a construção das cercas convencionais. As cercas vivas podem ser manejadas e seu tempo de vida útil pode ser bem longo.
Quebra-ventos
São barreiras de árvores e arbustos para proteger solos e culturas dos efeitos danosos dos ventos. Além do efeito direto da proteção do ambiente pelo vento, o uso de quebra-ventos traz inúmeros efeitos indiretos no sistema, como por exemplo: manutenção da umidade do solo, redução do ataque de insetos e patógenos, abrigo para pássaros e insetos benéficos (como inimigos naturais e polinizadores), redução da erosão eólica, manutenção da temperatura do solo e do ambiente, aumento dos teores de matéria orgânica e nutrientes, ambiente favorável à produtividade das lavouras.
Policultivo
Sistema de cultivo no qual duas ou mais espécies vegetais são cultivadas na mesma área simultaneamente. Uma das principais contribuições de um sistema em policultivo são aumento da biodiversidade da área, quebra do ciclo de pragas e doenças, aumento do controle biológico a partir do aumento da população de inimigos naturais, atração de polinizadores, aumento dos teores de nutrientes e matéria orgânica etc. Consequentemente há uma maior produtividade e diversificação da produção agrícola, gerando maior rentabilidade aos produtores pela oferta de produtos diferenciados ao longo do ano.
Contudo, o desempenho de culturas consorciadas depende de vários fatores, com destaque para tipo de cultura e arranjo espacial. O agricultor responsável pelo manejo deve levar em consideração a competição por água, luz e nutrientes, que podem prejudicar o desenvolvimento e, consequentemente, a produtividade das culturas.
Sistema agroflorestal (SAF)
Formas de uso e manejo do solo em que árvores ou arbustos são combinados a cultivos agrícolas e/ou animais em uma mesma área, ao mesmo tempo (associação simultânea) ou em uma sequência de tempo (associação temporal). Os principais objetivos dos SAFs são: formar sistemas produtivos ecológicos mais sustentáveis; diversificar o cultivo da terra; diminuir os riscos de mercado para o agricultor; elevar a qualidade de vida do produtor; melhorar e diversificar a produção de alimentos e ofertar serviços ambientais.
Dentre as vantagens destacam-se a ciclagem de nutrientes; o aproveitamento da energia do sol pelos diferentes estratos (camadas) das espécies vegetais; o aumento dos teores de matéria orgânica e nutrientes; a proteção do solo contra a erosão; e o aumento da biodiversidade.
Conclusão
Ao longo do texto conhecemos diversas técnicas de manejo do solo, das plantas e do ambiente que são variáveis e flexíveis, podendo ser aproveitadas em diferentes escalas, de acordo com o tamanho da propriedade e o nível socioeconômico de seus proprietários. A adoção dessas técnicas pode contribuir para o aumento da biodiversidade em um agroecossistema sustentável e trazer inúmeros benefícios para o sistema e para o produtor rural, como a ciclagem de nutrientes, equilíbrio biológico entre patógenos e “inimigos naturais”, melhoria da polinização, regulação microclimática etc.
Além disso, há vantagens econômicas, como a melhor distribuição de renda ao longo do ano, maior diversidade da produção agrícola, menores gastos com controle de pragas e doenças, maior aproveitamento de nutrientes, uso mais racional da terra, maior lucro por unidade de área, melhor utilização e distribuição da mão de obra etc. Assim, ao longo do tempo, os sistemas de produção tornam-se cada vez mais resilientes, produtivos e lucrativos. O que faz valer a pena cada investimento do produtor rural.
Compartilhe!
Intervenção humana nos ecossistemas naturais
Um sistema é definido como um conjunto ou coleção de coisas unidas ou relacionadas de tal maneira que formam e atuam como uma unidade. Um exemplo é o Sistema Solar, que compreende ao conjunto constituído pelo Sol, pelos planetas e outros corpos celestes. Outro exemplo é o ecossistema, um sistema ecológico em que os organismos vivos (como animais, vegetais e microrganismos) interagem entre si e com o ambiente físico (como água, atmosfera, solo e rochas). Percebe-se que as propriedades de um sistema não dependem só de seus componentes, senão da inter-relação existente entre eles.
A partir da evolução humana no Planeta Terra, o ser humano passou a intervir nos ecossistemas naturais. Com o desenvolvimento da agricultura, a humanidade conseguiu se estabelecer em nosso Planeta. Assim, o desenvolvimento da agricultura esteve diretamente associado à formação das primeiras civilizações mundiais. Atualmente, a agricultura é responsável pela produção de alimentos e fibras, geração de emprego e renda no mundo inteiro. Contudo, a intervenção humana nos ecossistemas naturais gerou uma série de impactos ambientais negativos, como o desmatamento, a degradação dos solos, a poluição dos recursos hídricos e da atmosfera etc. Dessa forma, para garantir a manutenção da produção de alimentos, a sociedade deve ter a responsabilidade de conduzir de maneira sustentável o manejo dos agroecossistemas.
Agroecossistemas sustentáveis
Os agroecossistemas são um tipo especial de ecossistema totalmente construídos pelo ser humano, onde há, pelo menos, uma população de utilidade agrícola. Entretanto, o uso inadequado dos recursos naturais em um agroecossistema causa impactos negativos, muitas das vezes irreversíveis. E isso põe em risco a capacidade que esses sistemas possuem para continuar sendo um celeiro de alimentos para a humanidade. São cada vez mais comuns problemas relacionados com a erosão do solo, poluição das águas, secas, redução da biodiversidade, lixiviação de nutrientes, compactação do solo, contaminação por agrotóxicos e pesticidas etc.
Nesse contexto, surgiu o conceito de “Agroecossistemas Sustentáveis”. Desenvolvimento sustentável é aquele capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das gerações futuras. Assim, uma agricultura sustentável refere-se ao modo de fazer agricultura buscando assegurar produtividades sustentadas a longo prazo, através do uso de práticas de manejo ecologicamente seguras. Dessa forma, a adoção de um agroecossistema sustentável é uma alternativa capaz de conduzir uma agricultura altamente produtiva, mas sem degradar o meio ambiente e comprometer o uso dos recursos naturais.
Manejo do solo em agroecossistemas sustentáveis
Para conseguir uma agricultura altamente produtiva e rentável, precisamos manter ou melhorar a qualidade do solo. Para isso, o manejo sustentável do solo é a peça fundamental. No modelo de agricultura sustentável, várias práticas são adotadas visando o melhor uso do solo. Essas práticas de manejo podem contribuir para o aumento de produtividade das culturas, seja diretamente através do fornecimento e ciclagem de nutrientes e acúmulo de matéria orgânica no solo, ou indiretamente, através da melhoria da qualidade física, química e biológica do solo, maior armazenamento de água no solo, manutenção da temperatura do solo, etc.
Portanto, essas práticas contribuem para o aumento da produtividade e, consequentemente, aumento da renda do agricultor no médio e longo prazo. Além disso, são práticas que contribuem para a preservação ambiental dos ecossistemas agrícolas. Separamos algumas das principais práticas de manejo do solo que você poderá adotar em sua propriedade. Confira:
Cultivo mínimo
Como o próprio nome sugere, consiste em um preparo mínimo do solo. O uso de máquinas agrícolas sobre o solo é mínimo, com o objetivo revolver minimamente o solo e evitar a sua compactação. Se o solo já se encontrar compactado, sugere-se o uso da subsolagem ou do cultivo de leguminosas descompactadoras para reverter a compactação. Além disso, é fundamental manter o solo coberto permanentemente.
Dessa forma, essa prática contribui para o aumento da estabilidade de agregados e da matéria orgânica do solo, redução da erosão, maior infiltração e armazenamento de água no solo, melhoria da fertilidade do solo, aumento da atividade microbiana, redução de emissões de poluentes por máquinas agrícolas, redução da adsorção de fosfatos e das perdas de nutrientes por lixiviação, dentre outros.
Cobertura do solo
Consiste em manter o solo sempre coberto, com o objetivo de reduzir as perdas de solo e nutrientes, e aumentar a infiltração da água no solo. A cobertura do solo pode ser feita com materiais sintéticos, como serragem e plásticos, mas a cobertura com materiais vegetais é a mais recomendada, pois além de mais barata, contribui para outros serviços ecossistêmicos. A cobertura vegetal pode ser feita a partir de plantas vivas ou mortas, como por exemplo, os restos culturas e a biomassa de plantas espontâneas.
Assim, essa prática, além de proteger o solo contra erosão, aumenta a retenção de água no solo, promove a reciclagem de nutrientes, reduz a temperatura do solo, reduz as perdas de água por evapotranspiração, controla a incidência de plantas invasoras, aumenta os teores de matéria orgânica e nutrientes etc.
Rotação e sucessão de culturas
A rotação de culturas consiste em semear diferentes espécies vegetais, uma após a colheita da outra, dentro do mesmo ano agrícola. Enquanto a sucessão de culturas é a alternância de espécies vegetais ocupando o mesmo espaço físico e período do ano. Essas técnicas aumentam a biodiversidade, quebram o ciclo de pragas e patógenos, sanam problemas fitossanitários, fornecem nutrientes para a cultura subsequente, aumentam os teores de matéria orgânica do solo, dentre outros.
Adubação verde
Compreende ao uso de plantas que são cultivadas em rotação ou associação com cultivos comerciais, visando manter, melhorar ou restaurar as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo. A biomassa vegetal pode ser incorporada ao solo ou mantida sobre a sua superfície.
Dessa forma, essa prática traz inúmeros benefícios ao agroecossistema, como por exemplo, proteção do solo contra os processos erosivos, maior infiltração e armazenamento de água no solo, maior acúmulo de matéria orgânica, reciclagem e fornecimento de nutrientes, descompactação do solo, controle de plantas invasoras, controle de nematoides do solo.
Adubação orgânica
São utilizados diversos materiais de origem animal ou vegetal para aumentar a fertilidade do solo. Os principais materiais utilizados como adubos orgânicos são estercos de animais, compostagem, vermicompostagem e biofertilizantes. Esses materiais, quando adicionados ao solo, aumentam os teores de nutrientes ao longo do tempo, além de aumentarem os teores de matéria orgânica e a atividade microbiana.
Além disso, o uso da adubação orgânica contribui para a melhoria das propriedades físicas, químicas e biológicas do solo, contribuindo com a melhora da sua qualidade. Os adubos orgânicos também podem ser associados aos adubos minerais, aumentando ainda mais a eficiência de ambos os adubos a partir da adubação organomineral.
Manejo de planta em agroecossistemas sustentáveis
Vimos no tópico anterior algumas técnicas de manejo do solo que podem ser adotadas em agroecossistemas sustentáveis. Contudo, apenas o manejo adequado do solo não é suficiente para alcançar os níveis produtivos desejados, por isso, é imprescindível o manejo correto das plantas.
Portanto, concomitantemente ao manejo do solo, as plantas devem ser manejadas visando a maximização da produção. Em um agroecossistema sustentável, são adotadas várias técnicas que, além de aumentar a produtividade, garantem a conservação dos recursos naturais e a preservação do meio ambiente. Separamos algumas práticas de manejo dos vegetais, que podem ser simples, mas não devem ser ignoradas pelos produtores rurais. A adoção dessas práticas pode fazer toda a diferença em um sistema de produção agrícola. Confira:
Espaçamento ideal
A adoção do espaçamento entre plantas e entrelinhas ideal para a cultura desejada é uma técnica que visa melhorar o plantio, aumentar os níveis de produtividade e assegurar o sucesso da safra. Mas qual o espaçamento ideal para a implementação de determinada cultura? Esse é um questionamento muito frequente por parte de muitos produtores rurais. O espaçamento ideal é aquele que está mais condizente com a realidade da área de produção e com o que é produzido.
Assim, os agricultores devem pesquisar sobre o espaçamento de uma cultura antes de sua implementação, pois isso é um dos principais fatores que contribuem para otimização da produtividade da lavoura. Para saber o espaçamento ideal, você deve considerar as condições do solo, o regime hídrico, a variedade da cultura, o sistema de cultivo (monocultivo ou consorciado), o sistema de manejo (convencional ou sustentável) e a operacionalidade da aplicação.
Época de plantio
A fixação da data de plantio é feita, principalmente, a partir dos dados climáticos de uma região e das características da cultura a ser implementada. A época ideal de plantio varia de cultura para cultura e, mesmo uma única cultura, pode ter diferentes épocas de plantio dependendo da região. É necessário que o agricultor se planeje e se atente às características que influenciam a escolha da data ideal para o plantio de uma cultura em determinada região. Temos um outro texto específico sobre época de plantio, confira.
Podas e desbastes
Compreendem a operações agrícolas que visam eliminar os rebentos em excesso. Podem ser utilizadas com diversos objetivos, como por exemplo: controlar disseminações de patógenos, estimular o crescimento e desenvolvimento das plantas, renovar o pomar possibilitando a rebrota, melhorar a sanidade das plantas, controlar o porte e a forma das plantas etc.
Assim, de acordo com o objetivo a ser alcançado, há diversos tipos de poda, por exemplo: poda de formação, de manutenção, de frutificação, de rejuvenescimento ou de floração. Seja qual for o objetivo, para a realização da poda ou do desbaste é necessário o uso de ferramentas adequadas, como as tesouras de poda. É importante higienizar a ferramenta de uma planta para a outra a fim de evitar a disseminação de doenças entre as plantas.
Escolha do cultivar
Após escolher a cultura a ser implementada, o agricultor precisar optar pelo cultivar. A escolha do cultivar ideal é importante para maximizar a produção e garantir o maior sucesso da safra. Para a escolha da melhor opção, o produtor deve levantar informações sobre o potencial produtivo da região, as cultivares mais adaptadas, o histórico da propriedade, as características climáticas, incidência de pragas e patógenos na região, melhor custo/benefício, entre outros.
Manejo do ambiente em agroecossistemas sustentáveis
Em agroecossistemas sustentáveis, os ambientes são manejados de forma a possibilitar o maior e o melhor uso do solo, bem como o alcance do maior potencial produtivo das plantas. Dessa forma, o solo, as plantas e os demais componentes dos agroecossistemas são manejados de forma integrada para o maior aproveitamento dos recursos disponíveis.
Nesse contexto, a diversificação do ambiente é uma técnica primordial para o desenho de ambientes sustentáveis. Separamos algumas técnicas de manejo que podem contribuir para o aumento da biodiversidade em agroecossistemas sustentáveis. Confira:
Cercas vivas
Consiste na utilização de arbustos com a função de deliminar uma área. Além disso, as cercas vivas atuam como filtro natural segurando a poeira, pó de asfalto e outras impurezas; auxiliam no controle e desvio do vento excessivo; harmonizam a estética do local; protegem o plantio principal; atraem polinizadores; atuam como repelente de pragas etc.
Além de todas essas vantagens, o uso de cercas vivas é economicamente viável, pois reduz os gastos com implementação, manutenção e renovação de madeiras utilizadas para a construção das cercas convencionais. As cercas vivas podem ser manejadas e seu tempo de vida útil pode ser bem longo.
Quebra-ventos
São barreiras de árvores e arbustos para proteger solos e culturas dos efeitos danosos dos ventos. Além do efeito direto da proteção do ambiente pelo vento, o uso de quebra-ventos traz inúmeros efeitos indiretos no sistema, como por exemplo: manutenção da umidade do solo, redução do ataque de insetos e patógenos, abrigo para pássaros e insetos benéficos (como inimigos naturais e polinizadores), redução da erosão eólica, manutenção da temperatura do solo e do ambiente, aumento dos teores de matéria orgânica e nutrientes, ambiente favorável à produtividade das lavouras.
Policultivo
Sistema de cultivo no qual duas ou mais espécies vegetais são cultivadas na mesma área simultaneamente. Uma das principais contribuições de um sistema em policultivo são aumento da biodiversidade da área, quebra do ciclo de pragas e doenças, aumento do controle biológico a partir do aumento da população de inimigos naturais, atração de polinizadores, aumento dos teores de nutrientes e matéria orgânica etc. Consequentemente há uma maior produtividade e diversificação da produção agrícola, gerando maior rentabilidade aos produtores pela oferta de produtos diferenciados ao longo do ano.
Contudo, o desempenho de culturas consorciadas depende de vários fatores, com destaque para tipo de cultura e arranjo espacial. O agricultor responsável pelo manejo deve levar em consideração a competição por água, luz e nutrientes, que podem prejudicar o desenvolvimento e, consequentemente, a produtividade das culturas.
Sistema agroflorestal (SAF)
Formas de uso e manejo do solo em que árvores ou arbustos são combinados a cultivos agrícolas e/ou animais em uma mesma área, ao mesmo tempo (associação simultânea) ou em uma sequência de tempo (associação temporal). Os principais objetivos dos SAFs são: formar sistemas produtivos ecológicos mais sustentáveis; diversificar o cultivo da terra; diminuir os riscos de mercado para o agricultor; elevar a qualidade de vida do produtor; melhorar e diversificar a produção de alimentos e ofertar serviços ambientais.
Dentre as vantagens destacam-se a ciclagem de nutrientes; o aproveitamento da energia do sol pelos diferentes estratos (camadas) das espécies vegetais; o aumento dos teores de matéria orgânica e nutrientes; a proteção do solo contra a erosão; e o aumento da biodiversidade.
Conclusão
Ao longo do texto conhecemos diversas técnicas de manejo do solo, das plantas e do ambiente que são variáveis e flexíveis, podendo ser aproveitadas em diferentes escalas, de acordo com o tamanho da propriedade e o nível socioeconômico de seus proprietários. A adoção dessas técnicas pode contribuir para o aumento da biodiversidade em um agroecossistema sustentável e trazer inúmeros benefícios para o sistema e para o produtor rural, como a ciclagem de nutrientes, equilíbrio biológico entre patógenos e “inimigos naturais”, melhoria da polinização, regulação microclimática etc.
Além disso, há vantagens econômicas, como a melhor distribuição de renda ao longo do ano, maior diversidade da produção agrícola, menores gastos com controle de pragas e doenças, maior aproveitamento de nutrientes, uso mais racional da terra, maior lucro por unidade de área, melhor utilização e distribuição da mão de obra etc. Assim, ao longo do tempo, os sistemas de produção tornam-se cada vez mais resilientes, produtivos e lucrativos. O que faz valer a pena cada investimento do produtor rural.